Os desastres climáticos marcaram o ano de 2024 do Rio Grande do Sul. Ao lamentarmos as perdas materiais e, sobretudo, a perda de vidas nas tragédias, reforçamos a necessidade de nos prepararmos adequadamente para eventos futuros e reerguermos as possibilidades e vocações dos gaúchos, reinventando atividades e projetos para o Estado e municípios.
Os desastres climáticos acabaram por interromper um bom momento do Comércio no estado do RS, que apresentava na comparação com estados vizinhos um final de 2024 e início de 2025 encorajador, principalmente nos segmentos do varejo tradicional. Contudo, os eventos de abril e maio de 2024 impediram que esse ritmo fosse mantido.
Desde então, os auxílios federais e os programas do governo estadual, além de ações pontuais dos municípios, fizeram com que houvesse uma retomada da atividade econômica significativa. Estes estímulos, ao natural, acabaram por beneficiar o setor de segmentos de comércio ampliado, especialmente materiais de construção, que desempenhavam mal nos últimos 2 anos.
Então, pode-se afirmar que houve nos estímulos um mérito: permitir o início da reconstrução, fazendo reagir setores que tinham dificuldades pelas condições do mercado de crédito: juros altos, custos de importados crescentes e dificuldades de parcelamento da população pelo comprometimento de renda. Os estímulos, em uma expressão, foram capazes de gerar reação.
Contudo, os indicadores demonstram que os estímulos, apesar de importantes, foram de fôlego curto para o comércio gaúcho: duraram de 2 a 3 meses para a maioria dos setores e, portanto, demonstraram que cumpriram apenas uma parte da necessidade. Enquanto foram importantes para “religar” a economia gaúcha, não desempenharam suficiente para sustentar um efeito multiplicativo permanente.
Provavelmente, para haver uma manutenção do ritmo de atividade gaúcho em patamar elevado depender-se-á de novos estímulos e/ou de investimentos adequados do ponto de vista estratégico, melhorando a infraestrutura, gerando empregos qualificados e oportunizando uma reinvenção do espaço econômico gaúcho, com novas matrizes de produção inseridas em cadeias produtivas que criem empregos e renda, além de inovação.
A recuperação efetiva somente será consolidada com escolhas de matrizes produtivas que impactem e proporcionem independência econômica para as localidades: esse é o primeiro desafio para o comércio gaúcho em 2025.
O segundo desafio está na política econômica do governo federal. Ao optar por uma linha estratégica distinta daquela adotada em seu primeiro mandato, entre 2003 e 2006, o presidente Lula afasta-se da condição de estadista e aproxima-se da condição de populista: não é porque o debate político encontra-se polarizado que o presidente necessite ser marcante em linhas econômicas.
Ao contrário, ao ser racional em decisões econômicas, especialmente nas questões fiscais, permitiria um afrouxamento da política monetária e possibilitaria um crescimento econômico que o consagraria e, mais importante, efetivaria a verdadeira essência das ideias políticas e distingui-lo-ia em relação a outros campos competidores.
Ao renunciar a um ajuste fiscal consistente, o governo federal aposta em um curto prazo que se esgota e abandona à possibilidade de um crescimento consistente em médio e longo prazos. Este é o segundo desafio para o comércio em 2025.
Isto significa que o governo irá necessariamente aumentar as receitas para realizar um ajuste fiscal? Entendemos que não. Apoiamos a correção do imposto de renda para aqueles que ganham até próximos de 4 salários-mínimos. E entendemos que mesmo abrindo mão dessa receita é possível cortar gastos: a essência do setor público é encontrar soluções para a população.Soluções criativas, que busquem gestão e eficiência, permitem com que a população seja atendida sem a necessidade de aumento de gastos.
A população não será atendida com recursos, como se pensa na atualidade, porém será acolhida desde que novos produtos e processos sejam viabilizados na administração pública. A isenção do Imposto de Renda para os assalariados até 5 mil reais, além de construir justiça tributária ao reconhecer os índices inflacionários não observados na tabela, proporcionaria um novo estímulo de consumo para uma faixa de população em que as carências são grandes.
Podemos, visualizar expressivos benefícios para os setores de habitação, vestuário, higiene pessoal e alimentação fora do domicílio.
Esta seria uma importante notícia para as famílias brasileiras, além de proporcionar estímulo adicional para o comércio brasileiro e gaúcho: uma força de consumo, no bolso das famílias, de quase R$ 40 bilhões anuais, sendo em torno de R$ 3 bilhões no Rio Grande do Sul. Este é o terceiro desafio para o varejo gaúcho em 2025.
Para o final de 2025, apesar dos imensos obstáculos, a FCDL-RS acredita, apesar das pressões inflacionárias, câmbio pressionado e a perspectiva de taxa Selic de pelo menos 13,5% aa, que o governo federal possa corrigir seu impulso e relembre a eficácia da política econômica de duas décadas atrás.
Logo, a diminuição do crescimento econômico projetado em 2025 ao Brasil poderá ser revertida na medida em que não se insista em reinventar a roda. Uma política econômica consistente permitirá que todos afinal reconheçam a responsabilidade de nossos formuladores de política e, mais importante, permitam a população a sensação de prosperidade.
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