Quem é comerciante sabe que a melhora dos negócios, fora as exceções, não é uma coisa uniforme. As vendas crescem em alguns itens, ao mesmo tempo em que caem em outros, em função de uma infinidade de variáveis.
De forma estratégica é fundamental identificar estes movimentos, impulsionando os itens preferidos pelos consumidores e analisando criteriosamente aqueles produtos que passam a ficar mais tempo nas prateleiras. E esta é a forma para garantir o controle do lojista sobre o seu negócio.
Resguardadas as proporções, esta simples, porém trabalhosa regra, deve ser aplicada a todos os segmentos produtivos, além de conter uma adequada explicação para a contextualização da economia de um país. No Brasil, entretanto, temos uma visão prejudicada por conta das paixões políticas que ainda mascaram a realidade.
Os críticos vendem a ideia de que o país está em ruínas, enquanto os mais fervorosos pregam que estamos rapidamente nos transformando no melhor dos paraísos. Para quem acredita em um ou outro extremo, sentimos dizer que as decisões tomadas a partir de perspectivas radicais normalmente acabam em grandes frustrações.
Sensato é ver os números da realidade e avaliar suas tendências, sem viés político, que tem o poder de impulsionar ou inibir os resultados, conforme as decisões das políticas públicas (impostos, burocracia, investimentos, juros, etc.).
Neste rápido exercício, pelo bem da neutralidade, vamos ignorar as perspectivas menos exatas e analisar a dinâmica mais recente dos números da economia nacional.
• As vendas do comércio varejista ampliado, em termos anualizados, vem se mantendo em ritmo de crescimento acima de 6% ao ano. Em termos mensais (comparados com o mesmo mês do ano passado), as vendas de setembro, outubro e novembro últimos cresceram, respectivamente, 5,7%; 6.6%; e 5,5%.
• A indústria de transformação, de acordo com os dados do IBGE de novembro último, ainda está no vermelho, com queda anualizada de 0,3%. Contudo, este indicador vem reduzindo rapidamente sua negatividade. Em agosto estava em -0,9%. Na base comparativa com o mesmo mês do ano anterior, a produção das fábricas (no decorrer dos últimos 3 meses de dados disponíveis) cresceu em setembro e outubro (1,6% e 2,3%, respectivamente); e caiu em novembro (0,6%).
• O Setor de Serviços, em termos anuais, vem aumentando seu ritmo de crescimento a uma razão de 0,1 ponto percentual ao mês desde agosto, chegando a 0,9% em novembro último. Nos últimos 3 meses (setembro a novembro de 2019), a taxa média de expansão da atividade foi de 2,07%.
• O indicador da produção agrícola nacional mostra crescimento de 6,6% da safra de cereais, leguminosas e oleaginosas; além de expansão de 2,1% no abate bovino; 1% no suíno; e 3,1% no de frangos.
De maneira sintetizada, os dados mostram que há uma predominância de aceleração do crescimento da economia brasileira. Pode ser que esta tendência seja menos perceptível na indústria – pela sua estrutura mais demorada de transformação de investimento em produto – porém é percebível nos outros setores produtivos.
É nítido que o cenário de crescimento em função dos dados do passado recente – apesar de consistente, não é explosivo. No entanto, os vários tombos que o Brasil já levou deixam claro que números exageradamente espetaculares normalmente são seguidos de grandes frustrações.
Todos, especialmente os livres e de bons costumes, tem pressa em recuperar o terreno perdido das últimas décadas. É nosso dever assimilar as lições do passado para prosperar com consistência. Um bom sinal de que este é o caminho que estamos trilhando está nas subsequentes previsões de institutos econômicos que mostram a aceleração da economia brasileira de maneira lenta, porém persistente.
O FMI, por exemplo, melhorou a estimativa de crescimento de nosso país para 2020, de 2,0% para 2,2%. Ficamos na torcida para que este percentual continue a crescer e materialize números ainda mais vantajosos. Isto deve ocorrer sem que a emoção sobreponha a Inteligência. Senão, teremos encrenca das grandes lá na frente.
Vitor Augusto Koch
Presidente da FCDL-RS