Medo serve para ter respeito e não pavor

11 de março de 2021
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Palavra do Presidente

 

O medo é algo natural, um instrumento instintivo de sobrevivência presente nos seres humanos e em grande parte dos animais. A sensação em questão nos alerta do perigo e apressa a decisão de fugir ou enfrentar alguma ameaça.

 

Seria irresponsabilidade de nossa parte dizer que não devemos sentir medo do Coronavírus. Contudo, seria da mesma forma errado propagar o pavor absoluto e promover o completo isolamento da população.

 

Se isto acontecesse de verdade e na forma radical como muitos estão propondo, em quanto tempo ficaríamos sem provisões alimentares em nossos lares? E os serviços de energia elétrica, água, telefonia seriam cortados depois de quantos dias por falta de operadores? Claro que tais situações seriam abrandadas pela flexibilização do isolamento.

 

Entretanto, será que isto evitaria ou apenas adiaria um colapso de nossa sociedade por lacunas que seriam abertas nas relações de interdependência que temos uns dos outros?

 

Construímos uma vida em sociedade em que cada cidadão ativo faz um tipo de atividade que complementa a dos outros, para assim termos “o todo”. Quebrar esta evolução nos levaria a uma situação de selvageria, de empobrecimento e de fragilização da vida, bem além da letalidade causada pelo COVID-19.

 

Dito isto, fica fácil concluir que não é errado ter medo da pandemia. Porém a melhor arma contra o temor não é o pavor, mas sim a inteligência e a força de uma sociedade organizada. Neste sentido, já sabemos que o uso de máscaras, álcool em gel e evitar aglomerações diminui sensivelmente a possibilidade de contaminação.

 

O estudo contínuo do território/inimigo (Arte da Guerra), suas fragilidades e seus danos, também é fundamental. E depois de um ano de pandemia os lamentáveis dados de letalidade podem esconder questões importantes.

 

Vejamos a situação do Rio Grande do Sul.

 

De acordo com o DATASUS, foi em 2016 o período de maior crescimento dos óbitos gaúchos, chegando a 6,28% frente ao ano anterior. Já os dados de registro civil (https://transparencia.registrocivil.org.br/) indicam o aumento da letalidade estadual de 4,2% em 2020 frente a 2019.  Ou seja, mesmo a COVID sendo uma doença gravíssima – que merece nossa atenção e cuidados – estamos ainda muito distantes do pior momento recente da mortalidade no Rio Grande do Sul.

 

Detalhando os dados, identificamos alguns pontos importantes a serem destacados na comparação do ano passado com 2019:

 

– Foram 9.397 falecimentos causados pelo Coronavírus em 2020;

 

– Se descontarmos estes óbitos por COVID-19 do total do ano, chegamos a 78.110 mortes no ano passado, frente a 83.987 em 2019, o que representa uma queda de 7% nos falecimentos;

 

– Isto nunca aconteceu antes.

 

Desde 2009, o Estado registrou redução de letalidade apenas em 3 oportunidades (provavelmente ajustes estatísticos do DATASUS), chegando ao máximo de 1,55% em 2017.

 

Então, é aceitável afirmar estatisticamente que as mortes por COVID foram superestimadas.

 

– Dados que confirmam tal viés, podem ser obtidos analisando causas mortis endêmicas que tiveram, oficialmente – mas seguramente não de fato – forte redução no Rio Grande do Sul no período em questão: pneumonia, queda de 23%; septicemia, redução de 7,7%; insuficiência respiratória, retração de 11,96%; infarto, -4,3%; AVC, -4,8%; e demais óbitos, -3,02%.

 

Estamos diante de informações erradas, que acabam nos induzindo a decisões equivocadas. Este é o pior dos cenários para vencer desafios, ainda mais quando estes envolvem a saúde e a vida das pessoas. Dispensável dizer que a verdade não tem filiação em partido político.

 

É inegável que a situação dos hospitais está desesperadora, com a superlotação das CTIs por causa das contaminações por COVID-19.

 

Entretanto, a exemplo dos evidentes equívocos nas estatísticas de evolução da doença, as atividades produtivas não são a causa do problema e sim, certamente a solução contra o colapso que se aproxima com as medidas de isolamento social.

 

Este pico de contaminações, assim como o ocorrido no final do ano passado, estão ligados a aglomerações. Iniciou com as ações eleitorais, festas natalinas e réveillon; e mais recentemente o carnaval e ajuntamentos nas praias.

 

Enquanto a vacina não é universalizada, trabalhar usando máscaras adequadas (as dos camelôs não protegem!), álcool gel e manter distância protocolar são a maneira de mostrar o temor respeitoso ao coronavírus. O pavor do #ficaemcasa é o caminho mais curto para a miséria e derrota diante do inimigo.

 

Repense seus decretos, Governador Eduardo Leite

 

Vitor Augusto Koch

Presidente da FCDL-RS

*Com a colaboração de Eduardo Starosta –  Economista Chefe da FCDL-RS

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