Em entrevista coletiva, fazendo um balanço de 2020 e projetando 2021, o presidente Vitor Augusto Koch reforçou a posição da Federação em favor do livre comércio e da redução da carga tributária
A pandemia do Coronavírus frustrou as expectativas de um 2020 positivo para o varejo gaúcho. O que se previa no início do ano, com a SELIC em queda e o emprego em rápida recuperação, era uma expansão anual das vendas ao redor de 8%. Porém, as medidas de isolamento social e o grande período em que as lojas estiveram fechadas, determinou a reversão desta projeção, fazendo com que exista queda de 4,36% nas vendas do varejo do Rio Grande do Sul na comparação de 2020 com 2019.
Este foi um dos indicadores que a Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do Rio Grande do Sul – FCDL-RS, apontou em entrevista coletiva concedida pelo presidente Vitor Augusto Koch e pelo consultor de Economia, Eduardo Starosta, nesta quinta-feira (03/12). Eles fizeram um balanço deste ano e projetaram o 2021 do varejo gaúcho.
Starosta lembrou que o efeito da pandemia nas vendas varejistas no Rio Grande do Sul começou a ser sentido em março, tendo sua fase mais aguda em abril, quando houve queda recorde de 27,08% na comparação com o mesmo período de 2019. Entre março e agosto, foram registradas sucessivas retrações nas vendas, com a lenta e gradual recuperação do comércio voltando a acontecer a partir de setembro, enquanto que no Brasil os percentuais positivos já eram registrados desde julho. A defasagem gaúcha se atribui ao período mais longo de manutenção das medidas de isolamento social, incluindo o fechamento dos estabelecimentos comerciais.
– O desempenho das vendas do varejo gaúcho por gênero de atividade teve um determinante principal em 2020: quem pôde e quem não teve permissão para abrir as lojas nos períodos mais radicais do isolamento social. Isto explica o crescimento dos supermercados (alta de 6,9%), lojas de material de construção (12,21%) e produtos farmacêuticos (2,03%). A exceção foram os postos de combustíveis, que mesmo permanecendo abertos, tiveram queda de vendas (-9,88%) em função da paralisação geral da mobilidade em várias atividades profissionais e no turismo – salientou Eduardo Starosta.
Em relação aos estabelecimentos que tiveram que fechar, o maior impacto real foi no ramo de vestuário e calçados (queda de -29,70%), seguido por veículos (-20,83%) e informática/escritório (-16,44%). A retração do ramo de livros e similares também tem razões estruturais, como o avanço da leitura eletrônica.
– Um dado importante é que as vendas do varejo gaúcho ainda estão 5,07% abaixo do registrado em 2014, último ano em que o país não enfrentou recessão, no período entre 2015 e 2017 – lembrou Eduardo Starosta.
O emprego no comércio
Em relação aos indicadores de emprego, o comércio varejista registrou uma queda mais aguda do que outros segmentos em 2020. O ano deve encerrar com um déficit na ordem de 13 mil postos de trabalho, número que reflete uma pequena recuperação a partir de agosto, uma vez que em julho chegou a existir uma perda de 35 mil vagas.
Já o mercado de trabalho geral do Rio Grande do Sul deve finalizar este ano com cerca de 50 mil empregos a menos do que em 2019.
O PIB e a inflação
As projeções da FCDL-RS para o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 2020 apontam uma queda de 4,53%, enquanto que o PIB gaúcho deve ter redução de 6,09% Já o PIB do comércio em nível nacional deve cair 0,79% e no estado, vai registrar queda de 3,60%.
Em relação a inflação, apesar da brasileira e da Região Metropolitana de Porto Alegre fecharem em patamares abaixo da maioria dos anos anteriores, é preocupante a aceleração de preços iniciada especialmente a partir de setembro de 2020, com foco central nos alimentos.
– Isso se explica muito em função do incremento dos preços dos gêneros alimentícios em março e abril, quando os supermercados concentraram o consumo brasileiro. E, depois, com a retomada da economia e o consequente aumento do consumo, seguiu-se nova alta de preços. A pressão dos alimentos na inflação deve começar a descer nos próximos meses. Nos parece que a principal preocupação a partir de 2021 será a capacidade do governo federal girar a dívida pública, extremamente inflada pelas recentes políticas sociais para combater o empobrecimento por conta da pandemia enfatizou Starosta.
Cenários para 2021
No decorrer de 2019 e de 2020 foram melhoradas importantes condições estruturais no Brasil, com a redução da SELIC, a reforma da Previdência, o avanço na desburocratização, entre outros aspectos. Isso já teria impacto positivo para quebrar a inércia de vários anos de estagnação e recessão, mas a pandemia da Covid-19 acabou impedindo uma performance econômica melhor do Brasil e do Rio Grande do Sul neste ano.
Para 2021, a forma como será tratado o enfrentamento ao Coronavírus também será fundamental para o definir o crescimento nacional e estadual. No que diz respeito ao Brasil, os pontos favoráveis para crescimento em 2021 são a tendência da SELIC continuar estável, a melhora do Brasil como fornecedor global de produtos agrícolas e agroindustriais, o que impacta positivamente na geração de emprego e renda, além das reformas estruturais internas que devem avançar de maneira a ampliar a liberdade econômica e diminuir o peso do Estado. Por fim, a retomada do emprego deve continuar acelerada no próximo ano, com reflexos positivos no consumo e na produção.
Para a FCDL-RS, em 2021 a expectativa é que o PIB brasileiro possa crescer entre 4% e 6,5%, além de um incremento na faixa de 4,5% a 7,5% das vendas do varejo. A Federação considera que esse cenário positivo pode se consumar caso sejam adotadas algumas medidas como o contínuo uso dos bancos públicos para reduzir o custo financeiro aos bons pagadores. Aumento da competitividade bancária; a redução da informalidade, de forma a aumentar a base contributiva da economia e promover a isonomia competitiva nas atividades produtivas; a sustentação de um câmbio realista, que alavanque as exportações nacionais e que não torne as importações proibitivas; o aumento da atratividade brasileira aos investimentos produtivos externos e uma nova e efetiva política industrial que priorize a inovação; a desoneração fiscal em paralelo a ações de redução do custeio da máquina pública e desburocratização.
Já para o Rio Grande do Sul, é possível esperar um cenário favorável para a exportação, o que se reflete no crescimento da balança comercial estadual, além da previsão de um aumento da safra agrícola. Também é possível antever uma retomada do consumo interno e a recuperação da empregabilidade no estado.
A expectativa para o RS é que o PIB cresça entre 4,5% e 7% e as vendas do varejo possam ter um aumento da ordem de 5% a 7% no próximo ano. Fatores que podem contribuir para isso, são o Governo do Estado assumir uma política mais agressiva para atrair investimentos estratégicos; não existir o aumento da carga fiscal, uma vez que a capacidade contributiva gaúcha está esgotada, e a reforma do setor público na direção da redução de seu tamanho.
No encerramento da entrevista, o presidente da FCDL-RS, Vitor Augusto Koch, voltou a destacar o trabalho que a Federação realizou ao longo de 2020 no sentido de permitir a liberdade da atividade comercial. Lembrou que a entidade, durante todo o período das rígidas restrições impostas aos lojistas gaúchos, buscou dialogar com as autoridades estaduais e municipais no sentido de reverter esse quadro, uma vez que os prejuízos econômicos que as medidas tomadas causariam eram previstos.
– Sempre pontuamos que o varejo não era o disseminador da Covid-19. Desde o início da pandemia nós orientamos os lojistas para seguirem todos os protocolos determinados pelas autoridades de saúde. Houve um grande investimento em vários equipamentos determinados, como máscaras, álcool em gel, termômetros para medição da temperatura corporal e, por fim, os varejistas tiveram suas portas fechadas por quase 210 dias em muitas regiões do Rio Grande do Sul. Isso contribui muito para ao números que a economia e o varejo gaúcho apresentaram em 2020. Neste momento que vivemos um crescimento dos indicadores de incidência da Covid-19, nos parece que o governo estadual está tomando medidas mais sensatas, não impedindo os comerciantes de trabalharem, ainda que com horários reduzidos. Todos nós, lojistas, precisamos trabalhar, pois a maioria, quase 90% das lojas são de micro e pequeno porte e dependem das vendas para sobreviver – lembrou Vitor Augusto Koch.
Por fim, o presidente da FCDL-RS reforço a posição contrária da entidade em relação a qualquer proposta que reajuste a carga tributária do Rio Grande do Sul. Salientou que a Federação é contra a prorrogação da manutenção da alíquota geral do ICMS em 18% e das alíquotas de combustíveis, energia elétrica e telecomunicações em 30%.
CONFIRA NO LINK ABAIXO, A ÍNTEGRA DO ESTUDO REALIZADO PELA FCDL-RS