Palavra do Presidente da FCDL-RS
O dia 14 de janeiro de 2019 deve ter sido difícil para a Premier Britânica Theresa May, após sofrer a derrota mais pronunciada da história do Parlamento Britânico. Por 432 votos contra e 202 a favor a proposta de encaminhamento da saída do Reino Unido da União Europeia (o Brexit) foi recusada.
A desculpa oficial é que a forma como isto estaria planejado para ocorrer poderia colocar em risco a relação entre as duas Irlandas, com longo histórico de turbulências. Porém o argumento é pouco convincente para explicar derrota tão estrondosa. Para entender a situação, temos de voltar no tempo.
Por uma questão em princípio protocolar, na visão do ex-primeiro-ministro David Cameron, no dia 23 de junho de 2016 os eleitores britânicos votaram em plebiscito para a sua adesão definitiva à União Europeia. A surpresa ficou por conta dos 52% que optaram pela condução oposta, ou seja, abandonar o tratado de integração. De fato, a maioria nas urnas ocorreu por conta de uma abstenção de 28%. E foi uma falta seletiva às urnas.
A Grande Londres, Manchester e Liverpool, maiores cidades inglesas, assim como a Escócia e a Irlanda do Norte votaram majoritariamente pela permanência, mas também registraram os menores percentuais de presença nas urnas. No entanto, voto é voto. E nas democracias isto é respeitado.
Com o resultado, Cameron deixou o governo, sendo sucedido pelo grupo favorável à completa autonomia econômica e política das ilhas britânicas.Na época em que isto aconteceu, consideramos o resultado um tanto quanto estranho.
Afinal, por que cargas d’água a nação que inventou os mais importantes princípios de globalização e integração internacional iria repentinamente começar a caminhar na direção oposta? O fato é que poucos dias após o plebiscito, mais de 2 milhões de britânicos pediram, por abaixo assinado, novo pleito... o que ainda não aconteceu.
Entretanto, a derrota de Theresa May praticamente obriga nova consulta popular, a qual deverá colocar novamente nos trilhos a história do Reino Unido, da União Europeia e do mundo.
Pelos lados do nosso Brasil, os equívocos políticos demoraram bem mais de dois anos e meio para serem reparados. Sem fazer juízo de convicção política, o fato cientificamente comprovado é que as nações que buscaram a integração global, respeitando a liberdade empreendedora, invariavelmente se desenvolveram mais rapidamente – apesar de alguns percalços corrigíveis – do que aqueles que optaram pelo caminho inverso, ou seja, tentar controlar as atividades produtivas, seja de forma direta, ou por medidas tributárias que tornam o Estado praticamente um sócio majoritário das empresas.
A partir dos anos 80, assistimos no Brasil um crescente avanço das liberdades democráticas de manifestar opiniões e de liberalidades que nada têm a ver com a política de verdade. Por outro lado, a vida privada dos cidadãos e empresas passou a ser cada vez mais vigiada, cobrada e cerceada em vários direitos fundamentais, como a tranquilidade da segurança; o acesso à saúde e à educação; condições de empreender e trabalhar sem amarras burocráticas e tributárias exageradas.
O mais interessante, ou lamentável disso, é que grande parte das instituições de representação que teriam como missão – pelo menos – alertar sobre os caminhos errados que estávamos trilhando, simplesmente aceitaram ser absorvidas pela estrutura política vigente, em troca de uma mera aparência de status no poder.
E os resultados foram terríveis: o preço que pagamos é muito maior do que a pior recessão da história nacional. Na verdade, se considerarmos que, desde os anos 80, nossa economia enriquece em patamares muito inferiores do que a média mundial, veremos que o dano é bem mais significativo.
Na citada década, nossa riqueza per-capita era similar à da então pobre Coréia do Sul, que hoje é uma das maiores potências econômicas globais, pelo simples fato de ter aderido à cartilha simples e fácil de promover o empreendedorismo e a qualificação da população.
Com a entrada de 2019, sob uma nova linha governativa, temos a oportunidade de finalmente começar a trilhar um caminho consistente de prosperidade. No entanto, as coisas não se fazem por si só. Temos muito trabalho pela frente e a obrigação de sermos resilientes e firmes em nossas convicções.
Certamente existirão momentos em que seremos criticados, questionados e até difamados. Porém a convicção na verdade deve se manter inabalável. Pelo nosso bem e especialmente pelo bem do nosso futuro.
Vitor Augusto Koch
Presidente da FCDL-RS